Não me faça pensar!Este é o segundo artigo de uma série sobre usabilidade na Web, baseada no livro “Não me faça pensar!“, do autor Steve Krug.

Como realmente usamos a Web

Quando estamos escrevendo o conteúdo do nosso site, geralmente imaginamos que as pessoas que vão lê-lo gostarão do máximo possível de conteúdo bem escrito, que explica claramente cada detalhe do assunto que estamos tratando.

Acreditamos que estas pessoas vão analisar o conteúdo da página atentamente, e vão então decidir como continuar, clicando no link que mais lhe interessar.

Este cenário é perfeitamente possível e realmente acontece em vários sites (acredito que está ocorrendo agora mesmo, já que você está lendo atentamente este artigo), porém ele é improvável na maioria dos sites, principalmente quando se está expondo um produto ou serviço.

O que as pessoas fazem na maioria das vezes é dar uma olhada geral na sua página, procurando algo que chame a atenção para o assunto que lhe interessa. Na grande maioria das vezes existirão grandes áreas das páginas que não serão nem olhadas.

Uma analogia simples explica melhor esta situação: quem projeta as páginas imagina que quem vai lê-as terá tempo e vontade para isso, como se estivesse confortavelmente sentado com seu texto nas mãos, quando o que geralmente acontece é como se esta pessoa estivesse passando de carro a mais de 100 KM por hora pelo seu texto escrito em um outdoor em uma rodovia.

Para projetar páginas Web eficazes você deverá estar atento a 3 fatos sobre o uso real da Web.

Fato 1 – Nós não lemos as páginas. Damos somente uma olhada nelas.

Segundo Steve Krug, este é um fato bem documentado (através de diversas pesquisas): nós não lemos as páginas. Ao invés disso, damos uma passada geral no seu conteúdo procurando visualmente o que nos interessa.

Claro que isso não é verdade em todos os sites, principalmente em sites de notícias, com documentos, guias ou descrições detalhadas de alguma coisa, porém é verdade na maioria dos sites.

Mas porque isso acontece? As principais razões são:

  • Geralmente estamos com pressa. Esta pressa pode ser devido à vários fatores, como tempo apertado para navegação durante o seu horário de almoço ou pela simples ansiedade em se encontrar rapidamente o que desejamos.
  • Nós sabemos que não é necessário ler tudo. Geralmente o conteúdo das páginas contém muito mais informação do que procuramos, e já sabemos que somente uma parte dela vai nos interessar.
  • Somos bons em encontrar o que interessa. Isso é feito sempre que lemos uma revista, um jornal, etc. Estamos acostumados a fazer uma busca “visual” no conteúdo que estamos lendo.

Imagine que você está interessado em consultar o saldo das suas milhas no site da empresa aérea que você usa.

Ao entrar no site haverá muito conteúdo, como promoções de viagens, notícias da empresa, etc, mas se você realmente estiver interessado somente no programa de milhagem, e estiver com uma relativa pressa, não vai ler nada da página.

Ao invés disso, você fará uma rápida procura visual para encontrar a parte da página que fala sobre milhas, e então vai seguir em frente.

Fato 2 – Não fazemos o que é o melhor ou ideal. Fazemos somente o que é suficiente.

Quando estamos criando sites, tendemos a supor que nossos visitantes analisarão nossas páginas, e com todas as opções que apresentamos, irão escolher a melhor opção.

Na verdade o que ocorre normalmente é diferente disso. As pessoas tendem a escolher a primeira opção razoável que lhes seja apresentada.

Isso ocorre geralmente porque estamos com pressa, e porque não há uma grande punição ao escolher uma opção errada (é muito simples clicar no botão voltar do navegador).

Além disso, para sites planejados incorretamente, ponderar qual é a melhor opção nem sempre traz o melhor resultado, e neste caso a primeira opção razoável realmente poderá ser uma boa opção.

Há também o elemento diversão envolvido. Adivinhar uma boa opção é gratificante, envolve o elemento sorte, que realmente mexe com as pessoas.

Fato 3 – Não queremos saber como as coisas funcionam. Queremos atingir nosso objetivo.

Uma das coisas bem determinadas em testes de usabilidade é que as pessoas usam coisas todo o tempo sem realmente as compreender, algumas vezes até com idéias equivocadas sobre o assunto.

Isso é fácil de perceber com produtos eletrônicos e eletrodomésticos. Quem realmente lê todo o manual e instruções antes de sair ligando o aparelho, quando está na expectativa de utilizá-lo o mais rápido possível? 🙂

Isso leva a usos heterodoxos do seu site e suas funções, que você, como profundo conhecedor do seu conteúdo, nem imaginaria que existiriam. Sempre haverá aquele usuário que clicava neste link, depois neste, depois nesta imagem, para então acessar o que deseja, sendo que há um botão “óbvio” na sua home page para levá-lo a este lugar.

Isso acontece por dois fatores principais:

  • Não é importante saber como as coisas funcionam, contanto que funcionem.
  • Se funciona assim, está bom para mim. Sempre ficamos com o que já sabemos que funciona, a não ser que exista alguma motivação extra para mudarmos (parou de funcionar, está instável, precisamos algo novo, etc).

No que importa então em fazer as pessoas entenderem melhor seu site, já que a maioria delas não se importa com isso?

Se você conseguir analisar seu site, e deixá-lo simples e fácil o suficiente para que as pessoas consigam entendê-lo com o mínimo de esforço que dispenderão, haverá uma boa chance de que elas encontrem mais facilmente o que procuram, o que é bom para elas e para você.

Além disso, elas poderão entender tudo mais o que seu site oferece, e não somente as partes com as quais elas se depararam e prestaram atenção inicialmente. Você terá também mais chance de enviá-los a outras partes do site que você deseja promover.

As pessoas também se sentirão mais inteligentes e com maior controle quando estiverem usando seu site, e isso os fará retornar.

O que fazer então se as pessoas realmente não prestam atenção ao conteúdo do site?

A resposta é: projete um site como se você estivesse projetando um painel ou outdoor, deixando os detalhes para as páginas de detalhes, e não para as páginas principais.

Mas isso é assunto para o próximo artigo desta série. Até lá!

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